Rui Silvares
Abstraccionismo narrativo
São tantos quantas as sombras de Grey, mais dez que os ladrões de Ali Babá, mais 29 que as lições de Harari para o século XXI e menos, muitos menos que tantas outras coisas. 50 Desenhos Negros constituem uma selecção um tanto arbitrária de um conjunto de trabalhos em tamanho A3 que venho realizando desde Janeiro de 2015, quando a minha filha me ofereceu o primeiro bloco de folhas negras. Até à data utilizei 8 blocos e concluí 301 desenhos. É um trabalho em progresso.
Todos eles resultam da aplicação de técnicas mistas; colagem, canetas, sprays, marcadores, tintas acrílicas, pastéis de óleo e de giz, tinta da China, lápis de cor e de grafite; todos eles resultam de uma espécie de combate entre mim, as ideias e os materiais, o som ambiente, o cigarro e a garrafa de cerveja; sonho e realidade a chocarem com violência na superfície negra das folhas de papel. É um processo caótico.
Raramente ou nunca sei onde vou chegar quando dou início a um destes registos. Por vezes tenho um título na cabeça, noutras ocasiões vou respigando pedaços de papel, pedaços de imagens que vou colando à espera que as formas ganhem vida e passem a constituir uma possibilidade narrativa. Não existe uma regra e quando alguma se insinua depressa é esquecida. Termino registando o título no verso. Mas os títulos também vão mudando, a obra nunca está terminada, fica num estado de suspensão.
E é aí que tu entras.
As narrativas destes desenhos ficam concluídas com a tua leitura individual. Cada um deles significa exactamente aquilo que estás a ver, aquilo que estás a pensar, a tua interpretação é perfeita. Se nem eu próprio sabia muito bem o que estava a pretender dizer…!
Estes Desenhos Negros são narrativas abstractas.
Rui Silvares
Almada, 8 de Maio de 2020
Rui Silvares, Viseu 1963
Professor em diversas escolas do distrito de Setúbal desde 1986, actualmente exerce a docência na Escola Anselmo de Andrade em Almada.
Desenvolve actividades públicas relacionadas com as Artes Plásticas desde os anos 80 até à actualidade.
Trabalhou em story-board para cinema e televisão, banda desenhada, design de comunicação, ilustração e produção de fanzines. Fez parte dos Carapau Staline, grupo musical indefinível.
Desenvolve actividade na produção de espectáculos teatrais no campo da cenografia, figurinos, adaptação de textos e autoria de textos originais.
É membro do Cidadão Exemplar, grupo informal que se dedica à organização de exposições da Artes Plásticas.